segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A montanha-russa das Bolsas

Stephen Kanitz

A maioria dos brasileiros deve achar uma maluquice as seguidas oscilações nas bolsas de valores. "Prefiro aplicar em imóveis, é mais seguro." "Bolsa é para quem tem estômago, meu negócio é fundo DI." "Bolsa de valores é um mercado de risco, estou fora." Felizmente, a verdade é outra.

Todo dia, menos de 1% das ações é transacionado na bolsa. Na próxima vez em que você ler que "a bolsa cai 10% num dia de intenso nervosismo", lembre-se de que 99% dos investidores nem tomaram conhecimento.

A maioria não vendeu suas posições, só os apavorados o fizeram. Nem o 1% que vendeu em pânico necessariamente perdeu dinheiro, muito menos 10%. Quem comprou ações dois anos atrás vendeu-as com lucro, mesmo que tenham caído no dia exato da venda. Portanto, por que tanta comoção?

Se, em vez de ações na bolsa, você tivesse comprado um flat service num bairro qualquer, um quadro do Scliar ou um livro raro de Camões, você nem saberia quanto o valor desses objetos oscilou nesse "dia de intenso nervosismo". Provavelmente, os preços desses objetos permaneceram na mesma, simplesmente porque ninguém comprou algo parecido no dia.

Na próxima crise financeira, tente vender seu apartamento, seu quadro ou seu livro raro em cinco minutos, como se faz na Bolsa de Valores de São Paulo. Você simplesmente não vai conseguir, não há bolsa de livros raros, nem de quadros famosos, nem de flat services com movimentação e preços diários.

Se você realmente precisar de dinheiro, provavelmente um corretor poderá vender o que você quer com 30% de desconto, anunciando o que se chama de galinha-morta. O jornalismo econômico comete enorme injustiça com o mercado de ações, só porque a bolsa de valores é transparente, divulga tudo on-line, tem preços minuto a minuto, o que permite que os jornalistas tenham assunto todo dia. Isso não ocorre no setor de imóveis, de quadros nem no de livros raros.

"Imóveis e quadros raros despencam 30% em dia de muito nervosismo, bolsa de valores tem queda muito menor" é uma manchete que nunca é publicada. Quadros, livros e imóveis ilíquidos num dia de nervosismo valem zero para quem precisa desesperadamente de dinheiro. Mas isso ninguém divulga.

Como todo administrador financeiro saberá lhe explicar, o que varia de fato de um dia para outro é o preço que você paga para ter liquidez imediata. Em dias de "intenso nervosismo", é o preço por liquidez que aumenta, não é o preço da ação que cai. Você poderia ganhar fortunas comprando nessas horas, oferecendo liquidez a gringos apavorados, mas, se você é levado a acreditar que o mundo está despencando, provavelmente sairá vendendo também.

Em dias de "intenso nervosismo", o preço por liquidez poderá ir para 10% do valor da ação e 30% do valor do imóvel. Só que 99% das pessoas se recusam a pagar esse preço por liquidez – preferem esperar que as coisas se acalmem, no que fazem muito bem.

O que ninguém noticia nessas horas de "intenso nervosismo" é que todo dia metade das pessoas está comprando o que a outra metade está vendendo. A metade otimista compra da metade pessimista. Se incluirmos os 99% que continuam com suas ações, mostrando portanto certo otimismo com relação ao futuro, todo dia tem muito mais otimistas por aí do que pessimistas.

Na próxima vez em que você ouvir um comentário de que a bolsa é um mercado de risco, pense duas vezes. A volatilidade da bolsa é bem menor que a dos imóveis, quadros e livros raros, justamente porque tem sempre alguém comprando, mesmo durante uma crise.

Do ponto de vista financeiro, a volatilidade de algo invendável num dia de "intenso nervosismo" é 100%, mas eu concordo que essa posição é um tanto polêmica, e nem todos irão concordar. Meu ponto, porém, é outro: não é justo considerar alguns mercados "voláteis" somente porque permitem ao comprador vender tudo em questão de minutos, o que não ocorre com quadros, imóveis nem livros raros.

Ações de terceira linha também não têm liquidez imediata, e investidores dessas ações esperam dias melhores, como fazem os de imóveis e livros raros. Mas isso não significa que sejam menos voláteis, simplesmente significa que nesses outros mercados não há cotações nem negócios realizados para virar manchete de jornal.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A História do Maior Investidor Pessoa Física da Bolsa Brasileira

A trajetória do investidor Lírio Parisotto
A história do ex-agricultor de Nova Bassano (RS) para o mercado de capitais traz muitos tropeços, mas também muito sucesso. Investiu em ações de grandes empresas e atualmente o fundo de investimento do de Lírio ultrapassa R$ 1,33 bilhões.
Por Cristiane Moraes


Nascer pobre nunca foi um limitador para Lírio Parisotto, nascido em Nova Bassano, interior do Rio Grande do Sul. Ele sempre quis ser rico e correu atrás do seu objetivo. Depois de abandonar sua vida como agricultor aos 13 anos de idade, foi seminarista, bancário, médico, comerciante, até chegar a industrial e dono da empresa Videolar.
 

Inicialmente pode parecer que vamos contar a história de sua carreira profissional e empresarial, mas na verdade vamos focar no “investidor” que Lírio sempre carregou ao longo de sua vida. A primeira experiência do ex-agricultor no mercado de capitais foi um tanto desastrada, mas nada o desanimou.
 

O empresário sabe muito bem o que é perder dinheiro e conta que cometeu dois grandes erros antes de começar a colher bons frutos nos investimentos em ações. Hoje o fundo de investimento de Lírio Parisotto na Geração Futuro Corretora ultrapassa R$ 1,33 bilhões.


Parisotto ingressou no mercado de capitais em 1971, quando ouvia muitas histórias sobre como dobrar o dinheiro investido em seis meses. Motivado por isso, abriu mão das economias reservadas para comprar um carro e investiu tudo em ações. Resultado: perdeu. “Acho que o que restou não dava para pagar um jantar, pelo menos não com o vinho mais diferenciado”, brinca.
Mesmo assim, não desistiu em1986 teve o seu maior prejuízo. “Entrei no pico do mercado e investi US$ 500 mil, que fazia parte do giro financeiro da empresa”, conta. Logo depois o mercado desabou e novamente o empresário amargou um prejuízo, agora dos grandes, uma perda de US$ 300 mil.



Depois do vendaval, a bonança!

Se por um lado, a carreira de investidor de Lírio parecia fracassada, a de empresário ia de vento em polpa. Ele lia muito sobre a economia brasileira e percebia que mesmo com a queda do mercado muitas empresas continuavam crescendo, gerando lucros e dividendos. Passou a estudar a fundo as empresas e resolveu que iria se basear em fundamentos para investir.

No início da década de 90 descobriu o livro “Faça Fortuna com Ações, Antes que seja Tarde” , Décio Bazin, que era articulista do Jornal Gazeta Mercantil, e sentiu que poderia ser sua grande chance de acertar no mercado de ações.

“Um pouco de sorte e também de preparo fez com que eu entrasse novamente na Bolsa logo depois que o mercado entrou em grande queda”, relembra. Dessa vez, Lírio aplicou US$ 2 milhões e estabeleceu um stop de ganho: quando o valor dobrasse sairia do mercado. E foi o que aconteceu um ano depois.

“Lavei a alma do prejuízo do passado e com o lucro consegui comprar a outra parte da sociedade da Videolar e fiquei com 100% da empresa. “Aprendi como perder e como ganhar”, destaca. Depois disso, o investidor ficou um tempo fora do mercado.

Critérios e Informação


Somente em 1998 voltou para o mercado de capitais, fez um investimento inicial de US$ 6 milhões e formou a carteira que tem há 11 anos. Ele reinveste todos os dividendos, só compra e investe em torno de 12 empresas. Segundo ele, só insere uma nova empresa carteira para substituir outra. “Compro ação para casar, não para ficar. Isso não quer dizer que não possa dar divórcio”, brinca o investidor que afirma que o seu critério para compra de papéis é preço (P/L).

Quando questionado sobre a queda da Bolsa nesse início do ano, diz que não se abalou e que no pior dia de queda aproveitou para comprar. “Meu benchmark é o Índice Bovespa, e em 2007 ele cresceu 43%, enquanto que o meu fundo 80%”, acentua.

Parisotto diz que são tempos diferentes, e que acreditava que o perfil dos investidores tinha melhorado, mas a maioria é gananciosa, e isso só faz perder. “Eu mesmo jamais investi em IPO. Acho que é preciso ter critérios e saber quanto realmente vale uma empresa”, aponta.